João Fernando e Victor Lopes representam a história de luta por igualdade de todos os autistas do Sul e Costa Verde do Rio de Janeiro. “Eles faziam chacota com a minha cara”. É assim que o morador de Pinheiral (RJ), Victor Lopes, de 25 anos, se recorda dos tempos de escola. Para ele, a infância não foi como a de outras crianças. Aos quatro anos, Victor foi diagnosticado com Síndrome de Asperger, um tipo de autismo. A condição foi descoberta depois que os pais dele notaram seu apego incomum aos objetos circulares. “Eu sofria muito bullying na escola”, lembra o jovem. Apesar das dificuldades durante o período escolar, ele superou os desafios e provou que é capaz de conquistar o que quer. Victor tem 25 anos e está quase se formando em História Divulgação/Arquivo Pessoal Determinado a conquistar seus objetivos pessoais, Victor cursa Licenciatura em História e está prestes a pegar o diploma. “Foi um desafio, mas eu consegui. Lembro de uma situação em que meu professor me perguntou se eu já tinha me aposentado, por ser autista. As pessoas precisam nos ouvir e nos tratar como seres humanos. Não somos melhores nem piores que ninguém, só diferentes". Importância do dia 2 de abril O Dia Mundial de Conscientização do Autismo permite que o assunto seja debatido e que as pessoas tenham mais conhecimento sobre a condição vivida por muitas crianças, jovens e adultos. Segundo uma pesquisa americana, publicada em 2020, a cada 54 crianças nascidas, uma é autista. No Brasil, não há um órgão que monitora o quantitativo de pessoas com o transtorno. A neuropediatra, Clarisse Freitas, explica que o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é caracterizado por dificuldades de comunicação e interação social, além do apego a padrões repetitivos e restritos de comportamento. “O autismo não deve ser tratado como uma doença e sim como um transtorno do neurodesenvolvimento”, explica a médica. As principais características de um autista leve são as dificuldades de comunicação e socialização, além da falta de contato visual ao conversar com outra pessoa. Em um grau mais forte de autismo, a pessoa apresenta padrões repetitivos ou restritos de interesses, bem como movimentos estereotipados. De acordo com a médica, o diagnóstico precoce é fundamental para um bom tratamento. “Muitas famílias se recusam a aceitar que o filho é autista, atrasando assim o início das terapias e, consequentemente, prejudicando o desenvolvimento das crianças". João fazia tratamento com psicólogos desde quando teve o diagnóstico de autista. Divulgação/Arquivo Pessoal No caso do João Fernando, de Volta Redonda, o diagnóstico veio quando ele tinha cinco anos. A mãe do adolescente, Cristiane Guedes, diz que os indícios de que o filho poderia ser autista surgiram antes de ele completar dois anos. “Além de não falar, ele apresentava dificuldades de socializar e distúrbios no sono”. Depois de passar por muitos médicos, que tratavam a condição do menino como pirraça, Cristiane conseguiu iniciar um acompanhamento com psicólogos e terapeutas ocupacionais. "A terapia ocupacional teve um papel fundamental no desenvolvimento do João. O diagnóstico também foi fundamental para garantir todos os direitos dele de ser inserido na sociedade, inclusive na inclusão escolar". João começou a falar somente quando completou cinco anos. Hoje com 14, ele evoluiu bastante e se tornou um menino curioso e que gosta de se comunicar com as pessoas. "Gosto de falar sobre política", diz o jovem. Atualmente, João está cursando o 9º ano do Ensino Fundamental em uma escola regular e sonha em ser desenhista de histórias em quadrinhos. Ele é apaixonado por futebol e por história. Victor e João Divulgação/Arquivo Pessoal Com realidades e desafios diferentes, tanto João como Victor consideram o Dia Mundial de Conscientização do Autismo de extrema importância para o conhecimento do transtorno e a luta por igualdade. “A informação é o principal meio de explicar o que é o autismo e como ele dever ser entendido”, concluiu Victor. * Texto publicado sob supervisão de Rianne Netto VÍDEOS: as notícias que foram ao ar na TV Rio Sul
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