Familiares de Jonathan Pereira, de 23 anos, só souberam da morte no dia seguinte. Os parentes foram ao IML na quinta (20), mas como não tinham assistência funerária, não puderam liberar o corpo. Só conseguiram nesta sexta (21) com dinheiro emprestado de uma igreja. Enterrada mais uma vítima da abordagem policial na Cidade de Deus O corpo do catador de lixo Jonathan Muniz Pereira, de 23 anos - morto durante abordagem policial na terça-feira (18) na Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio - foi enterrado nesta sexta (21) no cemitério do Pechincha. A família do jovem soube da morte apenas no dia seguinte e teve que esperar mais um dia para o enterro. Eles foram ao IML na quinta (20), mas como não tinham assistência funerária, não conseguiram liberar o corpo. Só conseguiram a liberação nesta sexta (21) com dinheiro emprestado de uma igreja. Essa é uma situação que se repete em casos de morte de pessoas sem recursos por agentes do Estado. A ajuda oferecida costuma ser o apoio psicológico, por meio da secretaria de vitimados, mas as famílias precisam ainda buscar dinheiro para conseguirem fazer o luto pelo parente. A morte Jonathan foi morto em uma abordagem da Polícia Militar enquanto estava na garupa do mototaxista Edvaldo Viana, de 41 anos, também morto na ação e enterrado nesta quinta. A moto foi parada pelos policiais, que atiraram nos dois. Moradores gravaram imagens dos corpos sendo arrastados pelos pés para dentro da viatura. Jonathan e Edvaldo foram levados para o hospital Cardoso Fontes, já sem vida. Uma foto do corpo de Jonathan no hospital circulou em redes sociais e chegou ate a família, que só então identificou o jovem. Ele era catador de material reciclável e tinha uma passagem pela polícia pelo roubo de um celular em 2018. Cumpriu pena e ganhou a liberdade. Segundo a família e amigos, Jonathan era usuário de drogas, mas não um criminoso, e não tinha arma. “Foi uma crueldade. Isso não tem como desmentir: foi assassinato. Até mesmo se a polícia fosse fazer uma abordagem, tinha que fazer uma abordagem normal, pegar, levar para delegacia, buscar os dados. Não chegar matando, esculachando. É uma vida!”, disse Marcos Vinicius da Silva, o irmão do jovem de 23 anos. VÍDEO: Moradores da Cidade de Deus dizem que mototaxista e carona foram mortos pela PM O que dizem os policiais Segundo os PMs que atiraram, Jonathan não estava armado. De acordo com eles, era Edvaldo, o piloto da moto, quem estava com uma arma. A família dele nega. Na versão dos policiais, a equipe patrulhava a área quando viu duas pessoas em uma moto saindo de um local conhecido como "13" ou "Tijolinho". Na sequência, eles afirmaram que o piloto da moto sacou uma arma com a intenção de atirar nos PMs. Os policias disseram que revidaram e, depois, foram alvo de disparos de criminosos do Tijolinho. Segundo o relato, os PMs se protegeram e pediram reforços. Depois que a situação se acalmou, os PMs contaram ter encontrado os feridos "cercados de pessoas viciadas em crack", e que a arma que supostamente estava com Edvaldo foi levada. Testemunhas, entretanto, contaram que Edvaldo e o passageiro foram mortos após o mototaxista fazer uma "bandalha" (manobra ilegal) e, em seguida, ser abordado pelos PMs. Os relatos dizem que, mesmo parando a moto, Edvaldo e o carona foram baleados. Convocação de viúva Na manhã desta sexta (21), a mulher de Edvaldo esteve na corregedoria da Polícia Militar. À tarde, no cemitério, um representante da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) questionou a convocação da corregedoria. "Dois dias depois do falecimento, a pessoa ser chamada e ficar durante 4 horas prestando um depoimento em um ambiente muitas vezes hostil a ela, numa instituição que acusou deliberadamente o marido dela de ter comedido crime, sendo que ela nega. Essa pessoa ir sozinha para lá, ela se sente extremamente intimidada, com medo. Sem advogado, sem defensor público", afirmou Rodrigo Mondego da OAB. Ele disse ainda que policiais foram a casa de parentes de uma das vítimas sem se identificar. "Policiais foram até a casa do Jonathan , tiraram fotos do local, tiraram fotos dos documentos dos parentes dele e a família se sentiu acuada nessa situação", disse o representante da OAB. A Polícia Militar afirma que, assim como os parentes do mortos, também tem interesse na apuração do caso. Os policiais foram ouvidos na delegacia e um fuzil está à disposição da perícia. VÍDEOS: Os mais vistos do Rio nos últimos 7 dias
source https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/05/21/corpo-de-catador-de-lixo-morto-em-abordagem-policial-na-cidade-de-deus-e-enterrado-no-rio.ghtml
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