
Acusado de invadir local com facão e faca responde por cinco homicídios e 14 tentativas. Famílias esperam que após tragédia no Oeste catarinense, outras possíveis tragédias sejam evitadas. Creche foi reformada após o ataque Prefeitura Saudades/Reprodução O ataque a creche de Saudades, no Oeste catarinense, completou um mês nesta sexta-feira (4). A sala de aula onde três crianças e duas profissionais morreram em 4 de maio virou uma área de circulação, com enfeites que lembram filtros de sonhos. As peças repletas de flores coloridas foram feitas por voluntários que também ajudaram a dar novas cores às paredes da creche. Uma reforma com ajuda da comunidade tentou transformar o cenário da tragédia em um local de esperança às crianças e professores que voltaram a frequentar o local na semana passada, após reforço na segurança. Decorações também foram colocadas logo na entrada. Agora, todas as escolas municipais da cidade de 9,8 mil habitantes têm portão eletrônico com um guarda trabalhando presencialmente e câmeras ainda devem ser colocadas. "A segurança nas escolas é com portão com vídeo porteiro e com um segurança na porta", detalha Gisela Hermann, secretária de educação municipal. Reforma será finalizada até segunda-feira, dizem voluntários Fernanda Moro/NSC TV Após o ataque, o governo também anunciou que deve reforçar a segurança nas escolas estaduais catarinenses. Saudades fica a cerca de 70 quilômetros de Chapecó, a maior cidade do Oeste de Santa Catarina, e a 600 quilômetros da capital, Florianópolis. A prefeitura anunciou também esta semana que pretende construir um memorial em homenagem às cinco vítimas. O local exato para construção segue em definição. O plano é realizar a obra junto com a construção de um centro educacional. VÍDEO: Entenda o atentado a facão em creche de Saudades (SC) A unidade infantil Aquarela atende 74 crianças. Nem todas voltaram ao local, como pequeno Henryque, de 1 ano e 8 meses, único ferido que sobreviveu ao ataque e que segue se recuperando em casa. "A recuperação dele ainda vai um bom tempo. Foram sete cortes e isso demora", afirma o pai, Diego Hubler. "De modo geral, as crianças superaram. Elas conseguem se distrair com os outros colegas, quando veem, já estão brincando. Mas claro, quando a gente chega novamente à escola, vêm aquele dia na cabeça", diz a secretária de educação. Investigações O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) anunciou há uma semana a criação de uma unidade especializada em investigações de crimes cibernéticos. O chamado Cyber Gaeco deve seguir o modelo do MP de São Paulo. Reforma na creche de Saudades (SC) Prefeitura Saudades/Reprodução Segundo o procurador-Geral de Justiça, Fernando da Silva Comin, a iniciativa era estudada e ganhou força após o ataque. "Infelizmente esses crimes que ocorrem em ambientes como a 'dark web' têm sido um fenômeno cada vez mais constante e presente no nosso cotidiano", informou Comin. Os familiares das vítimas dizem que desejam a permanência do acusado na prisão e que esperam justamente isso, que outros possíveis casos possam ser identificados antes de ocorrer, como afirma Evandro Sehn, pai de Sarah Luiza Mahle Sehn, de 1 ano e 7 meses, uma das três crianças mortas. "Esperamos que a justiça terrena consiga manter ele longe do convívio social e que consigam identificar alertar a sociedade como um todo, que as famílias consigam identificar, mudar hábitos para que isso jamais aconteça e que nenhum pai e nenhuma mãe jamais passe por isso que nós estamos passando", diz o pai da menina vítima do ataque. Com as informações obtidas durante o inquérito policial e nos dispositivos eletrônicos apreendidos na casa do jovem, a polícia informou que casos de potenciais suspeitos de ataques semelhantes em outros estados foram identificados. Os locais não foram detalhados. Creche em Saudades voltou a ter aulas nesta segunda-feira (24) Allan Borges/NSC TV Réu segue preso O acusado pelo ataque segue preso e recebeu alta ambulatorial na semana passada após voltar ao hospital para retirar os últimos drenos do corpo. Isso porque após atacar as crianças e funcionárias ele se feriu e chegou a ficar na unidade de terapia intensiva (UTI). Ele segue preso em Chapecó e réu por cinco homicídios e 14 tentativas. Havia 40 pessoas na creche, sendo 19 crianças e 21, profissionais como professoras, educadoras e merendeiras. Para o MPSC, mais pessoas tiveram suas vidas colocadas sob risco e, por isso, a denúncia pelas tentativas. Sala da lazer da creche de Saudades Prefeitura Saudades/Reprodução O delegado que investigou o caso, Jerônimo Marçal Ferreira, também afirmou que não houve mais vítimas porque as professoras agiram rápido trancando as salas e protegendo as demais crianças. O jovem era tido como introspectivo e planejou por meses o ataque, conforme o inquérito. No entanto, a intenção era atacar pessoas de seu convívio e ao perceber que não conseguiria, escolheu a creche poucos dias antes pela fragilidade das vítimas. A defesa dele pediu que exame de insanidade mental do acusado seja feito, mas a Justiça recusou. Quem são as vítimas? Keli Adriane, Sarah Luiza, Anna Bela, Murilo Massing e Mirla Renner são as vítimas do atentando a creche em Saudades (SC) Reprodução/Redes Sociais; Reprodução/NSC TV Keli Adriane Aniecevski, de 30 anos, era professora e dava aulas na unidade havia cerca de 10 anos Mirla Renner, de 20 anos, era agente educacional na escola Sarah Luiza Mahle Sehn, de 1 ano e 7 meses Murilo Massing, de 1 ano e 9 meses Anna Bela Fernandes de Barros, de 1 ano e 8 meses. Veja o que se sabe sobre o caso: Cartaz lembra funcionárias como heroínas e crianças como anjos em Saudades Sirli Freitas/Arquivo pessoal Um homem de 18 anos invadiu a escola Aquarela com duas facas às 10h de terça (4). A creche fica na cidade de Saudades (SC), 600km de Florianópolis, e atende crianças de 6 meses a 2 anos. 20 crianças estavam no local sob os cuidados de 5 professoras. A primeira pessoa que o assassino atacou foi a professora Keli Adriane Aniecevski. Mesmo ferida, ela correu para uma sala, onde estavam quatro crianças e a agente educativa Mirla Renner, de 20 anos. O homem chegou até a sala e continuou os ataques, matando Keli e três crianças. Mirla chegou a ser socorrida, mas não resistiu. Todas as vítimas foram atingidas com, pelo menos, cinco golpes de facão. O assassino tentou entrar em todas as salas da creche, mas professoras conseguiram se trancar e proteger as crianças. Na casa do assassino, a polícia encontrou R$ 11 mil e duas embalagens de facas novas. O velório e o sepultamento das cinco vítimas foi coletivo. O homem foi autuado em flagrante por cinco homicídios triplamente qualificados, além de uma tentativa de homicídio contra a criança que foi ferida. A Justiça de Santa Catarina converteu a prisão em flagrante do autor para prisão preventiva. A polícia analisou computadores encontrados na casa de autor e ouviu mais de 20 testemunhas. O autor do ataque foi ouvido pela polícia ainda no hospital seis dias após invadir a creche com facão. Ele foi levado para o presídio após receber alta. No inquérito, a polícia concluiu que ele planejou o ataque por meses e agiu sozinho. MPSC denunciou autor de ataque a creche em Saudades por cinco homicídios consumados e 14 tentados com três qualificadoras: motivo torpe, meio cruel e recurso que impossibilitou a defesa das vítimas. A denúncia do MPSC foi aceita pela Justiça de Santa Catarina em 24 de maio. Também em 24 de maio, as aulas na unidade foram retomadas. Atentado a creche em SC: infográfico mostra onde fica o estabelecimento em Santa Catarina Editoria de arte/G1 VÍDEOS: Ataque a creche de Saudades Veja mais notícias do estado no G1 SC
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