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Especialistas dizem que política de segurança pública do Rio não tem melhorado índices de violência

O estado do Rio lidera o número de policiais mortos em serviço e tem a polícia que mais provoca mortes em intervenções. Especialistas dizem que a política de segurança pública adotada no Rio há décadas não tem melhorado os índices de violência. O policial que morreu na operação foi enterrado nesta sexta-feira (7). O comboio que tomou conta da Avenida Brasil nesta sexta (7) foi uma homenagem dos colegas. O policial civil André Leonardo de Mello Frias tinha 48 anos. Ele estava na operação desta quinta (6), no Jacarezinho, e levou um tiro na cabeça assim que desceu do carro blindado. A polícia afirma que os disparos vieram dos furos de um muro de concreto. O inspetor era muito ativo na polícia. Em 2017, trabalhou na apreensão - no Aeroporto Internacional do Rio - de 60 fuzis contrabandeados de Miami, nos Estados Unidos. O corpo de André Frias foi enterrado na tarde desta sexta (7). O enteado, de 10 anos, estava profundamente triste. André foi um dos 28 mortos no Jacarezinho. Fábio Neira, presidente da Coligação dos Policiais Civis do Rio, considera que a operação desta quinta (6) teve apenas um erro: “A princípio, o único erro que eu vejo, até que me provem o contrário, é a execução de um policial civil. A gente lamenta todo esse tipo de efeito colateral de qualquer ação onde há vítimas. Os policiais não vêm de Marte, eles sofrem com tudo isso. Há hoje um pico, uma incidência muito grande na saúde mental do policial. É um desmembramento laboral, da polícia, que é uma atividade incessante, uma atividade diária de extremo estresse”. A diretora do Instituto Fogo Cruzado, instituição que pesquisa a violência armada no Brasil, Cecília Olliveira, diz que a operação policial mais letal da história do Rio foi o extremo oposto de sucesso: “A segurança pública não se resume a isso. Ela é um direito constitucional. Por que a gente permite, como sociedade, que seja feito, com gerações e gerações, porque a gente acha que esse tipo de ação vai nos deixar mais seguros?”. Consequências de décadas em que, segundo especialistas, o enfrentamento tem sido a principal arma da segurança pública no Rio. O que traz poucos resultados e muitas mortes. O estado do Rio lidera o número de policiais mortos em serviço: foram 142 entre os anos de 2015 e 2019. É a que polícia que mais provoca mortes em intervenções: foram mais de 6 mil no mesmo período. Se a política de segurança do Rio, historicamente, não dá bons resultados, por que mantê-la, mesmo que seja com algumas variações entre um governo e outro? Os especialistas sempre ressaltam que as favelas não fabricam fuzis, não produzem drogas e, por isso mesmo, defendem uma mudança profunda. É o que diz o presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima: “É possível, com investigação, identificar as rotas onde acontece. É possível identificar as formas de financiamento e lavagem de dinheiro do tráfico e, junto com a Polícia Federal, junto com o Ministério Público da federal e da estadual, junto com a Receita Federal atuar para combater de forma mais efetiva. O problema no Brasil é que o modelo de segurança revela um padrão de trabalho complementarmente falido, que não integra, não coordena esforços, e é ineficiente. Porque há 50 anos a gente faz a mesma coisa e o crime organizado, seja de facções de base prisional, ou de milícias nunca esteve tão forte quanto agora no país”. Thiago Amparo, professor de Direito da Fundação Getúlio Vargas, ressalta que - além dos erros - ações como a desta quinta (6) não oferecem nem mesmo um resultado de curtíssimo prazo, como a apreensão de uma enorme quantidade de armas e drogas. “A gente precisa parar de pensar que a polícia tem um cheque em branco para matar quem quer que seja, mesmo que sejam pessoas que a polícia considere suspeitas. No Brasil não há pena de morte, exceto em guerra declarada contra outro país. É necessário também a gente repensar como se lida com a política de drogas. Uma política de drogas que é baseada em operações que custam muito dinheiro e que tem como resultado a morte, especialmente, de jovens negros, de fato não tenha ganho em segurança pública e que se deveria ter uma política séria feita pelo estado num país democrático”.

source https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2021/05/07/especialistas-dizem-que-politica-de-seguranca-publica-do-rio-nao-tem-melhorado-indices-de-violencia.ghtml

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